quarta-feira, 25 de junho de 2008

Hinduísmo

Hinduísmo

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Brahma
Brahma

O Hinduísmo abrange várias crenças, práticas, filosofias e denominações, algumas religiosas e outras não. O Sámkhya (que significa número), por exemplo, é uma filosofia especulativa de carater exato, naturalista. A Ioga é a principal vertente prática deste rico manancial cultural, e originalmente não havia relações com religião alguma. Foi somente pelo séc. VIII d.C., com a uma grande difusão do Vêdánta pela Índia por Shankara, uma filosofia de caráter espiritualista, quase que uma religião, que a ioga adquire algum caráter espiritualista.

Templo hindu em Mysore
Templo hindu em Mysore

Os Hindus acreditam em um espírito supremo cósmico, que é adorado de muitas formas, representado por deidades individuais como Vishnu, Shiva e Shakti. O Hinduísmo é centrado sobre uma variedade de práticas que são meios de ajudar o indivíduo a experimentar a divindade que está em todas as partes e realizar a verdadeira natureza de seu Ser.

O Hinduísmo, como religião, é a terceira maior do mundo, com aproximadamente um bilhão de adeptos (censo de 2005), dos quais aproximadamente 890 milhões vivem na Índia. Outros países com grande população hindu são o Nepal, Bangladesh, África do Sul, Sri Lanka, Ilhas Maurício, Fiji, Guiana, Indonésia, Malásia, Estados Unidos e o Reino Unido.

Shiva
Shiva

O Hinduísmo é considerado a mais velha religião ainda existente do mundo. Ao contrário de outras grandes religiões do mundo, o Hinduísmo não possui apenas um único fundador e é baseado em textos religiosos desenvolvidos por vários séculos que contém insights espirituais e fornecem um guia prático para a vida religiosa. Entre tais textos, os antigos Vedas são normalmente considerados os de maior autoridade. As outras escrituras incluem os dezoito Puranas, e os épicos Mahabharata e Ramayana. O Bhagavad Gita que está contido no Mahabharata, é um ensinamento amplamente estudado que nos dá uma destilação das verdades superiores dos Vedas.

Hinduísmo originalmente indicava uma região geográfica. Por esse motivo, alguns grupos indianos mais tradicionalistas defendem que a religião é mais adequadamente chamada de Sanatana Dharma, significando "Religião Eterna".

A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares da divindade suprema, Brahman. Particular destaque é dado à Trimurti - um trindade constituída por Brahma, Shiva e Vishnu. Pode parecer estranho para os padrões de uma cultura cristã, mas o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro - em vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Krishna, avatar de Vishnu e personagem central do Bhagavad Gita.

Mandala de Vishnu
Mandala de Vishnu

Embora se afirme ter sido na cultura hinduísta que tiveram origem três outras importantes religiões o Budismo, o Jainismo e o Sikhismo, os indólogos colocam o Jainismo como bem anterior ao Bramanismo que originou o Hinduísmo, e o Budismo guarda relação com o Jainismo. O Budismo, mesmo considerado com uma heresia do Hinduísmo, é acolhido por ele.

O Yôga que entra no Hinduísmo graças à célebre obra Yôga Sútra, de Patáñjali Sankhya-Yoga, ou mais precisamente, Sêshwarasámkhya-Brahmácharya Yôga, um Yôga naturalista e patriarcal, com uma tendência levemente teísta. Ele é responsável pelo surgimento do Yôga Clássico, e a adoção desta tradição ao Hinduísmo. Anterior a isso, o Yôga é considerado Pré-Clássico, possui características matriarcais e naturalistas, e consata ter surgido no povo Drávida, e ter sido criado por Shiva, que futuramente entra como divindade no Hinduísmo.

Talvez o espírito hindu, que não foi inspirado por um homem ou mulher em particular, possa ser melhor compreendido nos Rig Veda, a "mais antiga escritura religiosa do mundo." (1):

Sânscrito: एकम् सत् विप्रा: बहुदा वदन्ति
Transliteração: ekam sat vipraaha bahudaa vadanti
Português: "A verdade é única, embora os sábios a conheçam como muitas."
Rig Veda (Livro I, Hino CLXIV, Verso 46)

Essencialmente, qualquer forma de prática espiritual seguida com fé, amor e persistência levará ao mesmo estado final de auto-realização. Portanto, o pensamento Hindu se distingue por encorajar enfaticamente a tolerância pelas diferentes crenças, desde que sistemas temporais não podem declarar ser a única compreensão da Verdade Transcendental.

Para os Hindus, essa idéia tem sido uma força ativa na definição do "Dharma Eterno". É para o Hinduísmo o que o infinito Ser Divino de Advaita é para a existência, permanecendo eternamente imutável e auto-iluminado, central e penetrante, a despeito de todo o caos à sua volta.

Hinduísmo: uma visão geral

Om (ou Aum) é o mais importante símbolo religioso do Hinduísmo, e significa o Espírito Cósmico
Om (ou Aum) é o mais importante símbolo religioso do Hinduísmo, e significa o Espírito Cósmico

O Hinduísmo repousa sobre o fundamento espiritual dos Vedas, sendo por isso conhecido como o Dharma Veda, e nos escritos meditativos destes, os Upanishads, bem como nos ensinamentos de muitos gurus que viveram ao longo dos tempos. Muitas correntes de pensamento partem das seis escolas Védicas/Hindus, das seitas Bhakti e das escolas Tantra Agamicas para dar origem ao oceano Hinduísta, a primeira das religiões dhármicas.

[editar] O Caminho eterno

"O caminho eterno" (em Sânscrito सनातन धर्म, Sanātana Dharma), ou a "Filosofia perene/Harmonia/Fé", é o nome que tem sido usado para representar o Hinduísmo desde a antiguidade. De acordo com os Hindus, transmite a idéia de que certos princípios espirituais são intrínsecamente verdadeiros e eternos, transcendendo as ações humanas, representando uma ciência pura da consciência. Mas essa consciência não é meramente aquela do corpo, da mente ou do intelecto, mas a de um estado de espírito supramental que existe dentro e além de nossa existência, o imaculado Ser de tudo. A religião dos Hindus é a busca inata pelo divino dentro do Ser, a busca por encontrar a Verdade que nunca foi perdida de fato. Verdade buscada com fé que poderá tornar-se reconfortante luminosidade independente da raça ou do credo professado. Na verdade, toda forma de existência, dos vegetais e animais até o homem, são sujeitos e objetos do eterno Dharma. Essa fé inata, então, é também conhecida por Arya/Dharma Nobre, Veda/Dharma do Conhecimento, Yoga/Dharma da União, e Dharma Hindu ou simplesmente Dharma.

O que pode ser compreendido como uma crença comum a todos os hindus são o Dharma, a reencarnação, o karma, e a moksha (liberação) de cada alma através de variadas ações de cunho moral e da meditação yoga. Entre os princípios fundamentais incluem-se ainda o ahimsa (não-violência), com a primazia do Guru, a palavra divina Aum e o poder do mantra, amor à verdade em muitas manifestações como Deus e Deusas, e a compreensão de que a chama divina essencial (Atman/Brahman) está presente em cada ser humano e em todas as criaturas viventes, que podem chegar por diversas sendas à Verdade Una.

[editar] o Yoga

Um dos pontos de vista (darshanas) do Hinduísmo é o Yoga, que significa União, no sentido de integração. Trata-se de uma filosofia prática surgida há mais de 5000 anos, e as Upanishads (ou Upanishadas) são o mais antigo registro escrito desta cultura.

No século III a.C. o Yoga é clássificado por Patáñjali, em sua célebre obra Yoga Sutra.

[editar] Os quatro objectivos na vida do hindu

Outro maior aspecto do Dharma Hindu que é uma prática comum de todos os Hindus é o purushartha, ou "quatro objetivos da vida". Eles são kama, artha, dharma e moksha. É dito que todos os homens seguem o kama (prazer, físico ou emocional) e artha (poder, fama e riqueza), mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos, com o dharma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior é infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como Mukti, Samadhi, Nirvana, etc.) do Samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.

[editar] Os quatro estágios da vida humana

A vida humana também é vista como quatro Ashramas ("fases"ou “estágios"). Eles são Brahmacharya, Grihasthya, Vanaprastha e Sanyasa. O primeiro quarto da vida, brahmacharya (literalmente "pastar em Brahma") é passado em celibato, sobriedade e pura contemplação dos segredos da vida sob os cuidados de um Guru, solidificando o corpo e a mente para as responsabilidades da vida. Grihastya é o estágio do chefe de família, alternativamente conhecido como Samsara, no qual o indivíduo se casa para satisfazer kama e artha na vida conjugal e em uma carreira profissional. Vanaprastha é o gradual desapego do mundo material, ostensivamente entregando seus deveres aos filhos e filhas, e passando mais tempo em contemplação da verdade, e em peregrinações santas. Finalmente, no Sanyasa, o individuo vai para reclusão, geralmente em uma floresta, para encontrar Deus através da meditação Yogica e pacificamente libertar-se de seu corpo para uma próxima vida.

[editar] Origens, nomenclatura e sociedade

[editar] Origens históricas e aspectos sociais

Pouco é conhecido sobre a origem do Hinduísmo, já que sua existência antecede os registros históricos. É dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos Arianos, que residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), Dravidianos, e Harappanos. Alguns dizem que do Hinduísmo nasceu com o Budismo e o Jainismo, mas Heinrich Zimmer e outros indólogos afirmam que o Jainismo é muito anterior ao Hinduísmo, e que o Budismo deriva deste e do Sankhya que em conseqüência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as idéias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os Arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do Hinduísmo data de 4000 a 6000 mil anos a.C..

É preciso salientar que há, atualmente, dúvidas entre os estudiosos sobre ter ou não havido uma invasão ariana na Índia. Questiona-se sobre a miscigenação lenta, em lugar de invasão violenta, com os dravidianos e outros povos de origem autóctone e mesmo mediterrânea, existentes na região antes da chegada dos pastores-guerreiros vindos da Europa. Isto coloca em questão também a origem do Hinduísmo. Como reforço a esta hipótese, a análise dos Rig Vedas mais antigos (cerca de 1500 a.C.) mostra uma série de fórmulas mágicas de propriedade de famílias no poder, sem qualquer indicação das práticas de yoga que acompanham a filosofia Sankhya, e que são documentadas em selos de cerca de 2500 a.C.

Historicamente, a palavra hindu antecende o Hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa) do Sindhu ou Rio Indo. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião Védica desde o século XV e XVI, por personalidades como Guru Nanak (fundador do Sikhismo). Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos Hindus Védicos foi denominada "Hinduísmo". Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota antiguidade.

[editar] Distribuição geográfica atual

A Índia, a Ilha Maurício, e o Nepal assim como a ilha indonésia de Bali têm como religião predominante o Hinduísmo; importantes minorias Hindus existem em Bangladesh (11 milhões), Myanmar (7,1 milhões), Sri Lanka (2.5 milhões), Estados Unidos (2,5 milhões), Paquistão (4,3 milhões), África do Sul (1,2 milhões), Reino Unido (1,5 milhão), Malásia (1,1 milhão), Canadá (1 milhão), Ilhas Fiji (500 mil), Trinidad e Tobago (500 mil), Guiana (400 mil), Holanda (400 mil), Cingapura (300 mil) e Suriname (200 mil).

[editar] Filosofia Hindu: as seis escolas Védicas de pensamento

As seis Astika (aceitando a autoridade dos Vedas), ou escolas filosóficas ortodoxas Hindu são Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa também denominadas Mimamsa, Uttara Mimamsa e Vedanta. As escolas não Védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao Budismo, Jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influênciar o Hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga, e Vedanta.

[editar] Purva Mimamsa

O principal objetivo do Purva ("cedo") ou da escola Mimamsa era estabelecer a autoridade dos Vedas. Consequentemente a valiosa contribuição desta escola ao Hinduísmo foi a formulação das regras da interpretação Védica. Seus aderentes acreditavam que a revelação deveria ser provada através da razão, e não aceita como um dogma cego. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda. Para aprofundar-se mais neste tema veja Purva Mimamsa.

[editar] Yoga

Ver artigo principal Ioga.

O sistema de Yoga é geralmente considerado ter surgido da filosofia Sankhya. Entretanto a yoga referida aqui, é especialmente a Raja Yoga (ou união através da meditação). E é baseada em um texto (que exerceu grande influéncia) do santo Patanjali intitulado Yoga Sutras, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia da Yoga meditacional. Os Upanishads e o Bhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da Yoga.

A filosofia Sankhya é anterior ao Bramanismo, filosofia que deu origem ao Hinduísmo, como coloca o eminente indólogo Heinrich Zimmer em seu clássico Filosofias da Índia. Patanjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tamil preserva elementos das filosofias pré-Védicas, tinha formação no sistema Sankhya-yoga, indissociável. O Sankhya foi compilado bem antes de Patanjali (que viveu no século II a.C., por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre Sankhya e Bramanismo é que o primeiro é dualista, e o segundo monista, mas ambos vêm o espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo tempo.

A diferença mais significante de Sankhya é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou Deus pessoal) em um uma visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito Terreno Divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundos dos Upanishads, Adotando uma visão Vedântica monista. A realização do objetivo da Yoga é conhecido como moksha ou samadhi. E como nos Upanishads, busca, o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito Brahman, através da (mente) ética, (corpo) físico meditação (alma) o único alvo de suas práticas é a "verdade suprema".

[editar] Uttara Mimamsa: As Três Escolas de Vedanta

A Escola Uttara ("tarde") Mimamsa é talvez a pedra angular dos movimentos do Hinduísmo e certamente foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. Primeiramente associada com os Upanishads e seus comentários por Badarayana, e Vedanta Sutra, o pensamento Vedanta dividiu-se em três grupos, iniciados pelo pensamento e escrita de Sankaracharya. A maioria da atual filosofia Hindu, está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento Vedanta, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu uno ao invés de rituais ou distinções sociais insignificantes como as castas.

[editar] Puro Monismo: Advaita Vedanta

Advaita literalmente significa "não dois"; isto é o que referimos como monoteístico, ou sistema não dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788-820). Shankara expos suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanishads e de seu guru Gaudapada. Através da analise da consciência experimental, ele expos a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas a obténção da paz e compreensão da verdade. Sankaracharya acusou as castas e rituais como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.

[editar] Monismo Qualificado: Vishistadvaita Vedanta

Ramanuja (1040 - 1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vishnu), cit (alma) e acit (matéria). Vishnu é a única realidade independente, enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade últimA, o sistema de Ramanuja é conhecido como não dualístico.

[editar] Dualismo: Dvaita Vedanta

Madhva (1199 - 1278) identificou deus com Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.